O dia em que eu aprendi a pescar

O meu pai sempre foi pescador. Nossas viagens da infância e adolescência sempre encontraram um rio, uma represa ou uma lagoa como destino e caixas de anzóis, iscas e varas de pescar sempre fizeram parte das nossas bagagens. Eu posso dizer que ele é o amador mais profissional no assunto. Portanto, não havia melhor pessoa no mundo para me ensinar a pescar.

Foi nas frias águas do Rio São Francisco, aos 12 anos de idade, que eu aprendi a pescar.

Logo depois de deixarmos as bagagens em seus devidos lugares dentro do velho rancho de tijolos expostos, telha de amianto e portas de aço saímos para o rio. Meu pai trazia um olhar diferente enquanto carregava duas varas de pescar. Eu estava pronto para acompanha-lo mais uma vez.

No entanto, quando chegamos na pequena plataforma de madeiras rachadas, ele me disse três ou quatro palavras de como eu deveria fazer para pescar um peixe e voltou para o rancho. Eu fiquei paralisado por um tempo. A vara de pescar nas mãos, a isca entre tantas iscas dançando dentro da vasilha branca e o pequeno banco dobrado mais à frente esperando por mim. O rio corria barulhento à minha frente com águas cor de barro.

Eu olhei em volta e percebi que naquele momento era comigo. Não havia ninguém para me indicar os passos, os detalhes. Eu precisava lembrar das tantas vezes em que fui testemunha do meu pai, lembrar as poucas instruções que ele havia deixado para mim e agir. Havia muitos peixes, para pouco pescador.

A isca não se encaixava, caia, sumia, escondia-se; o anzol vez ou outra se virava, enroscava-se na linha, furava meus pequenos dedos; a vara dançava com o vento e enganava minha coordenação motora. Eu quis voltar e chama-lo, pedir auxílio, pedir que deixasse tudo pronto para que eu pudesse seguir adiante. Porém, seria inútil, o rancho era longe e havia uma pequena mata entre nós que eu não queria encarar sozinho. Eu precisava seguir em frente.

Tentei algumas vezes mais até que os movimentos desajeitados começaram a se encaixar. A isca já cansada cedeu à minha insistência e o vento que parecia sacudir a vara, não incomodava mais minha tarefa. Lacei a isca no anzol, sentei-me no pequeno banco e arremessei a linha nas frias águas do Rio São Francisco.

No meu coração de garoto, senti uma alegria sem tamanho quando a vara foi puxada com força por um peixe. Não havia sensação melhor. Se você já pescou, sabe bem do que estou falando!

Eu puxava de cá e o peixe reagia de lá. Ele queria fugir daquela armadilha e eu queria trazê-lo para fora. Aquela luta não durou minutos, mas pareceu uma eternidade. Quando venci, venci muito mais do que uma batalha com um peixe.

Naquele momento eu descobri que não havia outra forma de aprender a pescar senão pescando. Descobri que, por mais que eu tivesse testemunhado muitas pescarias do meu pai, não seria o bastante para eu aprender a pescar: é preciso fazer por nós mesmos!

Meu pai sempre soube disso e me ensinou muitas outras coisas na vida dessa forma: Dando-me as instruções vitais e me deixando fazer por mim mesmo, confiando na minha capacidade.

Nós sempre temos coisas que gostaríamos de saber fazer, objetivos que gostaríamos de alcançar, mas nos deixamos de lado, sendo somente testemunha dos outros. Nós vemos, procuramos, seguimos os mestres e observamos o que eles fazem. Entretanto, nós não aprendemos, nós não avançamos. Você quer aprender a pescar? Então, pesque. Não veja os outros pescarem, mas pesque. Coloque as mãos. Tente. Insista. Sinta o cheiro. Experimente. Você dará passos incríveis na direção certa, pois deixará de ser uma testemunha e aprenderá.

O que você quer aprender a fazer?

Foto por Nubia Navarro (nubikini) em Pexels.com


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